Entrevista – Professores Rafael Orsi e Fernando Rodrigues - 04/05/2010


Rafael: no dia quatro do cinco de dois mil e dez, às oito horas e dez minutos, iremos entrevistar os professores Fernando e Rafael Orsi. Então, daremos início a nossa entrevista:
Rafael: há quanto tempo você está na escola?
Fernando: fevereiro de dois mil e dois.
Orsi: creio que eu tenha entrado na escola em dois mil e quatro. Seis anos que eu estou aqui no Centro Paula Souza.
Rafael: o que mudou na escola desde quando você entrou?
Fernando: recentemente (pegou, né?), mais recentemente o número de alunos e os cursos novos (os cursos técnicos). Quando eu entrei aqui só tinha informática e administração. Logo depois abriu o Design Gráfico que agora é Comunicação Visual e mais recentemente aí o Marketing, né, e agora, ultimamente, o Ensino Médio, que sofreu uma expansão, né (tem um monte de aluno), e agora tá tendo uma nova mudança, né? Vocês tão acompanhando uma nova mudança, tão ampliando o prédio.
Orsi: houve várias mudanças desde que eu entrei, assim: mudanças de direção, mudanças de coordenação, mudanças no perfil dos nossos alunos, mudança talvez até na questão dos próprios objetivos do Ensino Médio. A principal delas, eu acho, foi nessa expansão do número de vagas, passou de quarenta para cento e vinte alunos, e nós tivemos uma mudança no perfil dos nossos alunos. Agora vem aí uma nova mudança, que é estrutural no próprio prédio, que a gente espera que fique bom e funcional.
Rafael: qual é sua expectativa a respeito do ENEM em relação ao aumento de quarenta para cento e vinte alunos?
Fernando: é aumentar o número de alunos que vai... Vai melhor no ENEM, é... Eu acho que a porcentagem vai continuar e o número de alunos vai seguir a porcentagem e vai aumentar, porque os alunos daqui são selecionados e os professores são os mesmos, o mesmo professor que dá aula na escola pública, que dá aula na escola particular, que dá... Dá aula aqui. Então não é questão do professor, é questão do aluno. Então o aluno sempre vai ser interessado. Se acabou, se esgotou o assunto naquele bimestre e o aluno se interessou, ele vai atrás do complemento, né? Então eu acredito que vai... Vai ter uma porcentagem boa ainda de acertos lá, de bons resultados no ENEM e por conta de seguir a porcentagem vai ter um monte de alunos que agora são três vezes mais.
Orsi: tá gravando esse negócio aí?
Davi: tá gravando professor...
Fernando: gra-van-do
Orsi: penso que, em relação ao ENEM, tem que analisar os nossos alunos dentro dessa mudança que houve quantitativa e qualitativa. A mudança quantitativa nós falamos, que aumentou o número de alunos de quarenta pra cento e vinte, e como você tem um universo maior de alunos, você tem um universo que possibilita uma maior diversidade, e acredito que diversidade seja um ponto positivo pra gente. Então algumas expectativas de aumento no número de alunos, acredito que venha também o aumento, uma melhora, no próprio desempenho dos alunos no ENEM. Não que esse seja o objetivo final do aluno, ter que ir bem no ENEM, a gente crê que a verdade quando aumenta os alunos, aumenta essa diversidade, aumenta ou facilita as relações e melhora mesmo o perfil do aluno enquanto pessoa, enquanto cidadão, enquanto uma pessoa que aceita mais a diversidade e aceita mais a presença do outro. Isso pode refletir de maneira positiva na sua visão de mundo, e a gente espera que o ENEM avalie isso também, não é só uma questão conteudista. Quando avalia-se isso os nossos alunos, eles sempre vão muito bem porque além de interessados, eles são alunos com perfil diferente. Quando eram quarenta e agora com cento e vinte, a gente consegue juntar várias classes sociais diferentes e quando você tem essas várias classes sociais diferentes você tem uma integração muito grande. Então acho que isso é interessante, nós não temos casos de exclusão, não tem casos de bullyng,  não tem casos problemáticos, uma crítica que a gente ouve de algumas pessoas é que o aumento no número de alunos traria uma queda qualitativa no nosso desempenho. A primeira coisa que a gente deve pensar é realmente você quando atinge um patamar elevado de qualidade, a manutenção desse patamar elevado é bastante problemático, sair de um ponto inferior e galgar alguns degraus torna-se relativamente fácil, mas quando você está num nível elevado, a manutenção desse nível elevado exige bastante esforço. Agora o aumento dos alunos, eu creio  que não vá dificultar tanto esse trabalho a medida que a gente consegue fazer um trabalho bom com eles, a medida que você continua trabalhando sério, continua tentando manter o respeito na sala de aula, continua cobrando disciplina, continua desenvolvendo projetos e isso traz um reflexo bom pro ensino e desempenho dos alunos.  Então não é o fato de ter aumentado que vai diminuir a qualidade, porque  nós continuamos com quarenta alunos dentro da sala de aula, nós temos três turmas e não uma, mas são os mesmos quarenta alunos dentro da sala de aula, e a gente trabalha com esses quarenta alunos da melhor forma possível, com os recursos que nós temos, e em termos físicos ainda de desempenho dos nossos alunos. A gente vê que apesar de expansão, o Centro Paula Souza proporcionou algumas melhoras também, em termos estruturais, como datashow, material de apoio, agora tem o projeto que a gente espera que dê bons resultados que é o do Click Idéia, que é um portal voltado pros alunos pra poder melhorar o seu conteúdo. Então, a expectativa nossa, em relação (nossa, quando eu falo nossa, eu falo de todo o corpo docente), creio eu que a expectativa de todos é essa, porque todos trabalham pra isso, é a melhor possível, que a gente mantenha a nossa qualidade no ENEM. Não que esse seja o nosso fundamento, ir bem no ENEM, porque tem algumas escolas que sabem que o fundamento delas é ir bem no vestibular e no ENEM. Nosso fundamento não é esse. Nosso fundamento é formar pessoas conscientes e cidadãos ativos na sociedade, mas, se for bem no ENEM, melhor ainda. Essa é a nossa expectativa.
Rafael: fale alguns fatos marcantes na história da escola.
Fernando: olha, difícil viu, porque o mais marcante foi quando eu entrei aqui, porque já fazia um tempão que eu num era novo de novo, que eu num começava numa escola, um sistema, é...diferente de trabalho. Os alunos eram parecidos, mas o sistema era diferente, aqui tem o curso técnico. Eu fiz um curso técnico, mas eu nunca tinha dado aula em curso técnico. Dei aula no curso técnico de cara, porque nem tinha o curso que eu tinha formação pra dar aula. Mas, aqui é completamente diferente (não é completamente), mas é bem diferente das escolas onde eu já tinha dado aula, é diferente a cultura, né. Aqui tem mais homem dando aula, então, não sei se isso influencia, né, não sei se isso influência, porque daí o pessoal vai falar: “ah, mas isso é machismo”, num é, é diferente, e nem vou falar se é melhor ou pior, mas é diferente, né. Apesar disso, todas as diretoras nossas foram mulheres, então não tem nada a ver uma coisa com a outra, antes que alguém já me taca pedra. O que mais? O regime de trabalho, fazia anos que eu não tinha... a minha carteira de trabalho tava mofando, aí ela voltou a ser utilizada, e o aluno, um aluno que te escuta quando você fala. Não foi sempre assim, né, a escola foi mudando, e foi mudando pra melhor. Não é porque tá sendo gravada uma entrevista, porque vai ser veiculado, vai ser publicado, que a gente tá falando isso. Quem deu aula aqui há mais tempo sabe como evoluiu, né? Então a escola melhorou muito. Não sou hipócrita na hora de falar isso não, a escola melhorou muito. No tratamento, no convívio entre nós, os colegas e no convívio entre os alunos. A gente pegou bem essa evolução. Não adianta falar da turma desse ano, da outra, como eu falei em off, né, mas melhorou bastante. Então se eu falar assim que tem um fato marcante, o que mais me marcou foi quando eu entrei. Eu acho que é isso, não teve mais nada de marcante, marcante assim, traumatizante, ou... não acho que foi isso mesmo. Se eu lembrar de alguma outra coisa aí grava de novo né, volta. Acho que é só isso.
Orsi: bom, fato marcante, a gente sempre tenta buscar na memória grandes coisas, e as vezes grandes coisas a gente de imediato não consegue lembrar, até porque se não lembra de imediato é porque não marcou, mas algumas coisinhas que vão acontecendo, que passa pra memória, se são pelo menos engraçadas, que eu me lembro as vezes é que uma vez a gente foi pra Pinacoteca, em São Paulo e, na mesma viagem, duas coisas interessantes. A primeira delas é que a gente saiu e todo mundo em pé, (conferi os alunos, contei todo mundo ao entrar no ônibus), e todo mundo conversando, professor em pé, (fui eu e o Renatão), todo mundo em pé, batendo papo, e blá blá blá, quando resolvi, hora que pegou a pista, tinha passado o pedágio aqui de Leme/Araras, estava quase passando em Araras já, na verdade, aí tinha uma galera, e eu falei: “Vamos sentar”, tinha uma molecada tocando violão, falei: “Galera, vamos sentar porque polícia rodoviária, é perigoso, tal”, e todo mundo começou a se ajeitar, sentar, aí, de repente um ficou em pé, e eu falei: “Meu, você tem que sentar, cara”, e ele: “Pois é, não tem lugar”. Aí eu fui contar os lugares, nós tínhamos um aluno a mais no ônibus, e o que vai fazer com aquele aluno que o ônibus era pra cinquenta pessoas e tinha cinquenta e uma pessoas lá dentro, incluindo os dois professores. Aí eu combinei com o Renatão: “Eu vou em pé, qualquer coisa, sei lá, divide bando lá no fundo, não sei o que a gente pode fazer se caso a polícia para”. Só sei dizer que isso é uma coisa que lembra bem, você conta vinte vezes o mesmo número de pessoas e ali na hora pega o ônibus e vai com um a mais pra São Paulo, voltamos de São Paulo com um aluno a mais dentro do ônibus e um aluno em pé, que  a gente sabe que não pode. No dia até liguei pra cá pra ver se a gente conseguia resolver de alguma forma a questão, por conta disso, mas a gente foi com um certo receio, um certo medo, se a polícia rodoviária para, a gente certamente teria um problema muito sério com todos os alunos, a gente ia ficar com o ônibus até resolver. Felizmente não aconteceu nada,mas foi engraçado. Aí na outra, nessa mesma viagem, eu me lembro que um aluno estava lá (um aluno nosso bastante assim... num sei qual que é o termo que eu posso usar pra ele), e enfim...soltinho talvez. Tem uma placa enorme, vocês já foram pra Oca, né e tem uma placa enorme, “Não Suba Na Oca”, dali a pouco tava conversando com os outros alunos e eu escuto um apito forte do guarda gritando e eu olho, o nosso aluno lá em cima da Oca, ele veio correndo e subiu, tava lá em cima da Oca, a marca dos “pezinhos” dele subindo e o guarda que obviamente chamou a atenção dele e nossa junto né, dos professores, e eu sempre vejo esse aluno pelo caminho aí e acho que, eu lembro desse fato, do camarada que subiu (eu nunca tinha visto ninguém subir correndo na Oca), eu imaginava que até aquela placa era exagero, pra que uma placa, acha que algum espírito de porco vai querer subir na Oca? É, o nosso aluno é o espírito de porco que subiu na Oca... Foi engraçado pelo menos, eu nem liguei pelo xingo do guarda, mas achei engraçado, Depois a gente chamou a atenção dele. Então acho que esses são os dois fatos que me passam bastante pela memória. E um outro fato que marca, é até legal pelo fato da integração com os alunos, eu acho que foi ano passado, eu lembro que a gente organizou aquele festival, e a gente tocou pros alunos, e eu achei que foi uma integração bem interessante o festival de música que nós organizamos na escola, no ano passado. Várias bandas dos alunos tocaram, a gente tocou junto com eles, e eu achei que foi um momento legal , um momento de integração muito boa que marcou, marcou um pouco acho que a nossa história, pelo menos esse começo de história da Escola Técnica.
Fernando: nenhuma escola tem isso. Nenhuma escola tem isso, né? Nenhuma escola de Leme eu acho que fez isso. De Leme né.
Rafael: o senhor procura sempre se atualizar, procurando ganhar espaço na escola?
Fernando: eu me atualizo sim, mas assim, não preocupado com o espaço viu, porque, olha, volto a falar que não sou hipócrita, não to falando bem só porque isso está sendo registrado. O espaço que a gente tem aqui, aqui e na outra escola que eu trabalho, na outra secretaria que eu trabalho o espaço aqui é... É dado á vontade. “Olha, eu quero fazer um projeto”, pode fazer. ”Olha, vai precisar gastar uma graninha”, fala quanto é né, se a coisa estoura, “Opa, num é bem assim”, mas isso é o normal, mas a gente percebe que é bem democrático você quer trabalhar, ninguém atrapalha você. Então eu faço a atuali... Até porque eu gosto né, o ramo que eu trabalho o que eu escolhi, eu não escolhi por acaso, né, eu gosto mesmo, ninguém aguenta, porque dar aula tem a parte pesada, né, tem dia que você estoura, tem dia que... Essa classe não viu o estouro meu, né? Então é assim, então você fala assim: “Ah, mas o professor é bonzinho”, professor bonzinho, professor trouxa  é a mesma coisa (na visão de terceiros, na visão do aluno). A pessoa que sempre concede vai ter que conceder mais, né? Então, entre...a relação entre a direção, a coordenação e os professores não é essa. Ah, tipo assim: “se eu abrir mais espaço, a pessoa vai invadir”, não. Os professores aqui não são invasivos, não gostam de aparecer. Cada um faz o seu trabalho, um prestigia o trabalho do outro, todo mundo bate palma quando tem que bater, elogia quando... Desce a lenha quando tem que descer... “Ó, não deu certo isso aí, vamu mudar”, é um negócio bem aberto. Espaço sempre vai ter, por mais coisa errada, eu já fiz projetos que não deram certos, e nem por isso a escola falou: “Não, agora no próximo também num vamos dar a apoio pra você”. Nunca aconteceu isso. Peguei um, dois, terceira... né, terceira direção, né diferente agora, terceira equipe que eu pego diferente. Nunca aconteceu isso. A gente sempre teve apoio. Teve um tremendo empenho da escola em acertar... a gente percebe que tem um tremendo emprenho da escola em acertar os contratos dos professores, deixar todo mundo tranquilo, “Ó, você pode trabalhar sossegado, que a sua vida funcional tá acertada”, os alunos, eles podem produzir, estudar, assim, com tranquilidade porque todas as condições são dadas, né? Então eu não acho que existe uma concorrente, porque quando a gente fala em buscar espaço, dá impressão de uma concorrência né? Você “Olha, eu quero esse espaço pra mim”, você urina em volta assim e esse é o meu espaço. Não, é... eu interpretei dessa forma, mas eu sei que não é bem assim, mas pra virar isso, numa empresa particular é assim, um quer comer o outro lá dentro, tem um monte de puxa-saco, dedo-duro, toda aquela laia, né, e não existe isso aqui, e se existisse não teria espaço, né, a pessoa não teria campo de ação. Então aqui é um ambiente muito legal, então a atualização que eu faço é antes até (vou tá até sendo um pouco egoísta falando isso), antes de pensar “as minhas aulas serão melhores, as minhas aulas serão...”, não é que eu gosto do negócio, então eu to lendo lá é porque eu gosto do assunto. De repente eu to lendo sobre um assunto que eu nem vou dar aula, e eu me culpo as vezes, “pô, eu vou dar um trabalho, to dando aula sobre um determinado assunto e peço sobre outro”, né, mas é... é dentro da matéria, eu gosto da, da, do que eu faço, né, se eu não gostasse dos assuntos que eu trato com vocês todos, não só inglês, na só artes, né, todos, inclusive os temas transversais que eu to sempre enfiando no meio, que eu acho que é mais importante, repito, é mais (sempre repito porque eu falei isso pra vocês né), pra mim é mais importante o cara ter vergonha na cara do que diploma. Se o cara tem vergonha na cara, ele, sem diploma vai ser uma pessoa melhor. O cara que não tem vergonha na cara, por mim podia trancar a matrícula dele, né, e aqui a gente tem o perfil de aluno bom, perfil de aluno que vai ser um bom cidadão, ou seja, que tem vergonha na cara. Que hoje, o pessoal, (é chique você falar em ética né), eu costumo usar o termo vergonha na cara, que é a mesma coisa. Então a... então na... (os caras estão com papo paralelo aqui ó, os caras estão desconcentrando a gente, ó). Então, eu acho que a, no caso de espaço, não existe essa preocupação, acho que nenhum colega, e atualização é uma coisa natural, eu sinto isso dos professores daqui, todo mundo aqui ama o que faz, e todo mundo aqui ama os alunos, no sentido mais amplo... a gente se coloca aqui como substituto dos pais de vocês, né, então a gente tem uma responsabilidade grande, e a gente assume isso.
Orsi: eu não lembro a pergunta...
Rafael: se você se preocupa em se atualizar, procurando ganhar espaço na escola
Orsi: ah tá... é, eu penso que, a atualização é uma consequência, um caminho natural de todos nós, o tempo todo estamos nos atualizando em alguma coisa, não com o fundamento de ganhar espaço na escola, porque esse ganhar espaço na escola, pode soar de maneira um pouco dúbia, no sentido de você querer se aparecer muito mais na escola, ou de repente de querer ser coordenador, diretor, ou alguma coisa assim. Então eu acho que essa questão de espaço é, na verdade, no meu ponto de vista, uma questão menor. O que seria uma questão mais importante é a sua atualização no sentido da satisfação pessoal de saber que aquilo que você tá fazendo tá trazendo resultado. Então a gente busca, obviamente atualização acadêmica, você vai buscar um curso acadêmico, formações acadêmicas, palestras, faz algumas leituras, só que outras coisas, que na minha opinião são muito importantes e que as vezes passa despercebido por algumas pessoas, não é o caso do nosso grupo aqui, mas a  vezes passa despercebido por algumas pessoas, que é você participar ou ir a uma peça de teatro, uma exposição de arte, uma apresentação musical de música boa, (mas aí também essa questão de música boa é muito relativa), é, mas uma apresentação musical. Isso tudo agrega um valor à sua personalidade, agrega um valor às suas ações, que não é necessariamente um conteúdo disciplinar, é outra coisa, mas na hora que eu to conversando com os alunos, passo tentando falar alguma coisa pra eles, matéria específica pra eles, isso me auxilia, porque eu lembro de algum caso específico, que eu lembro de alguma viagem que eu fiz e possa ajudar na minha explicação, eu posso exemplificar que eu estive lá, eu vi a coisa em loco. Então a minha preocupação em me atualizar ela é acadêmica, é como uma consequência, como um caminho natural de qualquer profissional, que gosta do que faz. Agora essa questão da atualização também, acho que passa por outras coisas que não são necessariamente acadêmicas, não são necessariamente do seu conteúdo disciplinar ali, você tem que saber outras coisas, porque você pode ser, um maior, um ótimo profissional, no sentido conhecimento, só que você ter uma relação interpessoal péssima. Então a relação interpessoal começa a se tornar melhor a partir do momento que você vai agregando valores à sua vida, valores muito maiores do que os valores monetários ou valores que possa ter de conhecimento prático. Valores mesmo culturais, valores outros que você consegue passar de alguma forma pros alunos na própria postura, você tem uma questão... Você não precisa falar nada, sua própria postura as vezes transmite algumas coisas. Então nesse sentido a gente busca atualização sim, também. Então tem duas vertentes. Agora, que essa atualização possa proporcionar um espaço na escola, eu acredito que essa é a preocupação menor, não tenho outra preocupação em buscar outros espaços na escola, até porque, como o Fernando falou, nós temos muito espaço na escola, aqui a gente é muito democrático, qualquer um que possa, ou que queira dar a sua opinião e queira participar e queira propor alguma coisa esté aberto a isso. Então o grupo de professores consegue criar uma sinergia positiva, quando você propõe alguma coisa, todo mundo acaba vestindo a camisa, um dá uma ideia e fala: “Ó”, você vem com uma proposta e de repente ela se vê toda modificada em vários aspectos, porque todo mundo deu um “pitaquinho” ali. Então isso é uma sinergia positiva que a gente encontra apoio, na direção, encontra apoio na coordenação e nos colegas, porque não adianta a coordenação e direção a apoiar e de repente todos os outros colegas não apoiarem. Então a gente encontra apoio nas várias instâncias diferentes e melhor ainda, a gente vê que o trabalho ecoa com os alunos. Aquilo que a gente propõe, começa a fazer, os alunos fazem, você propõe, eles vão atrás, dão ideias, e correm, fazem muita coisa. A gente sempre tem esse espaço, não precisa da atualização em si, pra poder ganhar esse espaço, porque a gente não tem essa preocupação com espaço não, a preocupação nossa mesmo é propor coisas interessantes que as pessoas possam fazer aí. Lógico, as vezes não dá certo, num dá mesmo, propõe alguma coisa que não dá certo, mas melhor tentar e não dar certo do que não tentar (eu penso assim pelo menos), é isso.
Rafael: o que você espera futuramente na escola e em sua carreira profissional?
Fernando: da escola é que continue assim, que seja um ambiente com liberdade e...e que a gente possa trabalhar, trabalhar e desenvolver o trabalho com os outros, que os alunos possam trabalhar também, é... do jeito que a gente tá fazendo. Se continuar assim já tá bom sabe, a gente não sabe o quanto mais dá pra evoluir, porque a gente conhece muita coisa pior, dentro da educação, mais fácil é você conhecer pior. Melhor, aí seria um nível de excelência que também custaria um preço, né e eu não sei se esse nível de excelência traria também um bom convívio, porque, quando você paga, quando a pessoa ganha muito dinheiro, quando o aluno paga uma mensalidade muito alta, aí ele vai... é complicado isso aí sabe, é... o convívio fica diferente a pessoa meio que se sente sócio daquilo, é complicado, eu num me daria muito bem. E o que eu espero do que mesmo? Da minha carreira, ah! Minha carreira... olha bicho, sinceramente eu não tenho, eu não tenho mais como estudar, não dá mais, cursos de atualização, por exemplo, dá pra você fazer um mestrado? Num dá mais, eu não consigo mais. De repente alguém fala: “Não mas dá”, num dá. Do jeito que eu trabalho, num dá. Mas você nunca vai fazer? Na hora que eu me aposentar, se eu resolver fazer a loucura de “agora eu vou estudar!”, mesmo que eu não vá dar aula, mas eu quero fazer, é, esse curso, ah, tudo bem, mas eu acredito que eu não vou fazer isso, então eu me atualizo informalmente, eu vou atrás das fontes, né? Então da minha carreira né, é...continuar fazendo um bom trabalho e ver os alunos (porque o sonho do professor é ver o aluno melhor que ele né, o prof... talvez seja um dos poucos casos que não vai haver inveja daquele que passou por ele, porque tem muito patrão que tem inveja do funcionário, num pode comprar um carro novo que já começa um bichinho a comer por dentro, né, então o professor, ele se sente orgulhoso. Você tá ganhando quanto? Parabéns! A gente fica muito contente, porque aí deu certo, a minha obra é o aluno. Então, eu quero ver mais e mais obras bem feitas aí, que eu me orgulho disso. É isso.
Davi: então tá, fala aí. Tá gravando.
Orsi: então, acho que, o que eu espero da escola? Eu espero que a escola continue a se desenvolver, entendeu? Continue a se desenvolver com qualidade, continue a trazer mais e mais alunos pra cá, de repente de cento e vinte a gente passe aí pra cento e sessenta, pra duzentos, duzentos e quarenta, que a gente aumente os nossos números aí com qualidade, porque acho que esse é o fundamento do ensino público de qualidade, que é conseguir formar bem o máximo de pessoas possível. Então eu espero isso da escola, que ela continue a se desenvolver com qualidade. Está no máximo do que ela pode? Nunca a gente vai estar, sempre pode melhorar alguma coisa, mas é pra isso que a gente trabalha, a gente trabalha que é para as coisas melhorarem sempre, trazendo uma visão empresarial pra escola, já que as instituições públicas gostam disso.  Temos que pensar numa melhoria contínua da escola. Então a gente espera isso dela, que ela esteja melhorando o tempo todo e pra ela melhorar o tempo todo, tudo isso precisa de uma melhora o tempo todo também dos seus profissionais, que vai de todos os níveis, que vai da faxineira, vai da secretaria, vai dos inspetores, do corpo docente, todos, precisam estar o tempo todo evoluindo junto com a escola, então a melhoria contínua de todos é isso o que eu espero pra própria carreira, você conseguir melhorar de várias formas diferentes, mas você poder agregar valor à sua, a sua existência, eu acho que a profissão, ela remete à isso, agregar valor à existência do ser humano, e então eu espero agregar valor à minha existência através da minha profissão. Então pra isso eu espero dar uma boa contribuição aos alunos, não muito além do conteúdo disciplinar, mas uma questão mesmo de valores, que eu acho que deve ser defendidos a todo custo na nossa sociedade, uma sociedade que gradativamente vai se esfacelando de várias formas diferentes e aí a gente tenta contribuir com a própria profissão, pra que esse esfacelamento seja retardado, pelo menos, se não resolvido, pelo menos retardado. Então é isso o que eu espero da profissão, em termos profissionais é isso, agregar valores pra minha existência, porque a profissão, ela é maior do que você trabalhar pra ganhar dinheiro, deve agregar valores, e esses valores que eu espero. É isso.
Rafael: então obrigado pela entrevista professores, até a próxima então, “brigadão”, tchau tchau.
Orsi: falou.

0 comentários:

Postar um comentário