Entrevista: S. Antônio - 09/08/2010

Davi: bom dia, hoje é segunda feira dia nove de agosto, às oito e cinqüenta e seis da manhã, nós estamos aqui para entrevistar o Seu Antônio, funcionário da ETE há muito tempo já e nós estamos com a Lisiane, Bruna, Natália, Márcio, Débora, Vanessa, Mateus e o próprio seu Antônio, então vamos lá, e eu entrevistador Davi.
Davi: seu Antônio, há quanto tempo o senhor trabalha aqui na ETE?
Seu Antônio: há 16 anos.
Davi: o senhor já trabalhou em alguma outra escola?
Seu Antônio: não, eu só fui caseiro do Mário Zini.
Davi: e o senhor se sente à vontade trabalhando aqui na ETE? Trabalhando como caseiro aqui?
Seu Antônio: muito mais do que em casa, por que eu gosto daqui, eu não vejo a hora de chegar segunda pra mim vir pra cá. Já acostumei, eu considero como uma família aqui.
Davi: o senhor nota alguma diferença com os alunos de antigamente com os de hoje?
Seu Antônio: pra mim é tudo igual, eu tenho amizade com todo mundo, todos os alunos me tratam bem, desde o começo eu nunca tive problema, nem com professor nem com ninguém.
Davi: o que mudou na escola desde quando o senhor entrou aqui?
Seu Antônio: ah, mudou muita coisa, melhorou muito aqui, a limpeza, aumentou mais salas, aumentou tudo, melhorou bastante.
Davi: o senhor tem alguma história engraçada para contar pra gente, algum fato marcante que aconteceu desde quando o senhor começou a trabalhar aqui?
Seu Antônio: ah, não né, tem só as brincadeirada que os alunos fazem, que os primeiros gostavam, só ficavam aonde é que eu tava trabalhando, eles tavam atrapalhando falando bobagem, tinha vez que o diretor ficava bravo com os alunos catava aonde eu tava lá pra baixo
Davi: seu Antônio, como o senhor começou a trabalhar aqui na escola técnica?
Seu Antônio: é que eu trabalhava na prefeitura e mudei pra cá, eu ganhava 200 reais da prefeitura e pagava 150 de aluguel ai a minha mulher trabalhava com a Maria Olga ai o caseiro daqui mudou ai a Maria Olga falou se agente não queria vir morar aqui, daí eu peguei né, ai eu fiquei morando um ano aqui nessa escola fechada, e não funcionava não, eu ficava trabalhando, ai depois a escola começou a funcionar. A primeira diretora falou assim ou o senhor passa a trabalhar aqui com nós ou tem que desocupar a casa, eu falei pra ela “passo agora” (risos) e to até hoje, morei um ano aqui sozinho, isso aqui dava até medo, num tinha, mas num tinha vizinho era só eu mesmo,  se entrava algum malandro ai (ao fundo: e com a escola funcionando o senhor continuou aqui?) continuei, faz só três anos que eu comprei a casa e mudei, mas era caseiro, até três anos  atrás morava aqui, desde 2007 que eu mudei.
Davi: não tem nenhuma história que o senhor pode contar? Que você lembra bem?
Seu Antônio: mas nunca aconteceu nada.
Davi: nem alguma história que o senhor lembra e da risada?
Seu Antônio: só uma vez, os alunos estavam subindo lá (na bola da ETE) e a dona Cidinha mandou ficar de olho.
Davi: mas ela deixou os alunos subirem?
Seu Antônio: não, também não vou fazer isso mais não, tem inspetor pra que?
(Márcio pede licença para o seu Antônio continuar o trabalho.)
Davi: o senhor quer falar mais alguma coisa? Algum agradecimento?
Seu Antônio: eu agradeço a todo mundo né.
Débora: ah tem que lembrar que o senhor é o nosso homenageado.
Davi: é vai ser nosso homenageado, no fim do ano vai lá na nossa formatura receber um presente.
Seu Antônio: no fim do ano?
Davi: é no fim do ano, não vai esquecer hein.
Seu Antônio: agora ta mechendo na aposentadoria, mas só que eles querem que eu fique na firma com as faxineiras.
Davi: quer que você seja contratado?
Seu Antônio: ai eles querem que eu saia do estado.
Davi: uhun...
Matheus: se você for se aposentar você vai continuar trabalhando aqui?
Seu Antônio: se eu aposentar do estado eu vou ter que sair agora. Eles querem que eu fique pela firma e parado eu num fico não, senão eu morro de doente.
Davi: o senhor gosta da escola né!
Seu Antônio: e outra, trabalhando também, em qualquer outro lugar, ficar em casa meu, tá loco.
Davi: tudo o que se ve na escola tem a mão do Seu Antônio.
Seu Antônio: nunca tive problema com os alunos não. De primeiro os alunos eram arteiros, pulavam o muro pra ir na padaria comprar guaraná, “o Seu Antônio, eu vo compra guaraná!” e eu dizia “vai o dinheiro é de você né”,eu vou falar não vai? Uma vez eu fui falar com um aluno e ele falou “ o senhor não manda nada aqui, O senhor não é inspetor.” Eu tive que ficar quieto né.
Davi: olha só.
Seu Antônio: mas isso faz tempo, mais nos primeiros.
Davi: ainda naqueles primeiros, eram todos ruins?
Seu Antônio: teve um dia que um pegou um pacote de Bombril, abriu a tampa da caixa de força, embaixo ali, ponhou debaixo, aquilo explodiu, virou um fumaceiro, ai eu fui lá meio quieto e falei com o diretor que tava lá, ai eu falei pro diretor quem estava. Ai depois pegou todos, o diretor chamou os pais, fez pagar tudo, depois até trocou a caixa.
Davi: nossa, mas acabou a energia toda da escola?
Seu Antônio: trocou a caixa, precisou trocar tudo ali perto do quartinho que eu uso.
(comentários ao fundo)
Seu Antônio: de primeiro a Ângela deixava os alunos subirem em cima pra ver, agora que mudou né.
Márcio: na bola?
Davi: quando era aquela turma de só quarenta alunos?
Seu Antônio: tiravam fotos.
Mateus: esses dias, a tarde agente apresentou pré-TCC, agente ia subir, Eu, o Jonathan e o Josias, ai o Jonathan subiu assim, ele falou: vem que ta aberto, do jeito que eu coloquei o pé pra subir, quando eu estava na escada, o guarda lá debaixo viu.
Débora: ta vendo, se fosse o Seu Antônio, ele não ia proibir.
Davi: verdade.
Seu Antônio: ah não sei de nada.
Débora: mas o senhor já subiu lá né?
Seu Antônio: eu subo direto, eu vou lavar a caixa nesse fim de semana.
Márcio: o seu Antônio se quiser eu de ajuda.
Mateus: é verdade Seu Antônio, agente vai vim um sábado pra vim ajudar o senhor.
Márcio: não tem como o senhor pedir pra Cidinha deixar voltar pra ajudar, ai agente só vem, tira uma foto, ajuda o senhor a fazer o que tem que fazer.
Mateus: de Sábado Márcio, cedo?
Débora: é, e depois põe na apresentação de Slide da nossa formatura.
Mateus: é, o último Slide.
Seu Antônio: fala com a professora de vocês.
Mateus: o Paulo.
Márcio: não, tem que falar com a Cidinha ou com a Edna.
Mateus: Paulo? Você acha? A Edna não deixa, e a Cidinha agente não pode pedir mais nada pra ela.
Seu Antônio: se vocês falarem, um dia que estiver cedo, vocês só vem, tiram a foto e vão embora.
Mateus: ta certo.
Márcio: e se os guardas não estiverem? Ai fica alguém aqui com o senhor?
Seu Antônio: só os guardas.
Mateus: o guarda fica todo dia, só da rolo pra eles se a Edna ver ou alguma coisa acontecer.
Marcio: tem que ser no dia que ta o Marcão e o (...).
Mateus: é, porque foram os outros dois que chingou o Luan e eu.
Márcio: os outros dois não dá
Débora: ta bom, depois vocês combinam.
Márcio: e ta gravando isso daí, olha que beleza.
Davi: tem mais alguma história que o senhor pode contar, tipo essa do bombril ou algum fato que aconteceu desse jeito ou não vem nada na cabeça agora?
Seu Antônio: não, só foi isso mesmo.
Débora: não teve nenhum aluno que fez alguma coisa e pediu para o senhor não acobertar?
(Seu Antônio balança a cabeça acenando não)
Davi: não? Nunca teve?
Márcio: se ele acobertou ele acobertou bem né, porque ele não pode falar.
Davi: não, ele não pode falar mas...
Seu Antônio: não, nunca pediram.
Davi: não?
Seu Antônio: só que eu vi eles pulando, eu não falava nada porque não é meu.
Davi: então já fez muita coisa, digo, já viu muita coisa aqui?
Seu Antônio: o duro foi morar aqui um ano sem ninguém.
Davi: não tinha nem esposa?
Seu Antônio: tinha mas, entra gente de noite aqui, dava medo.
Débora: nunca teve nada pessoas entrarem aqui à noite?
Seu Antônio: nunca entraram, quando eu mudei aqui, aquele cantinho em cima, tava cheio de pacotinho, por isso eu fiquei com medo, mas depois eu limpei e não entrou mais nada, acho que tava abandonado.
Davi: pacotinho de droga? Pra usarem aqui?
Seu Antônio: tava abandonado, o portão ficava só encostado, o caseiro mudou, o caseiro era o polícia, o Lavezzo, roubaram essa casa aqui, quando eu não morava, o Lavezzo morou, arrombaram, a porta ta até rachada uma parte, eles moravam ai e um dia saiu e roubaram, saiu tudo.
Mateus: mora alguém ai?
Seu Antônio: não, agora não, depois que eu mudei não.
Davi: os guardas para ficar na escola.
Seu Antônio: é, pra ficar 24 horas.
Davi: agora eles usa como cozinha né?
Seu Antônio: quando eu morava aqui não tinha guarda, dava medo, o Lavezzo não parava em casa também, vivia saindo direto, uma hora roubaram ele.
Davi: mas então eram dois caseiros na época?
Seu Antônio: primeiro foi ele, depois ele saiu e eu entrei.
Débora: sempre foi escola aqui ou antes de ser escola era outra coisa?
Seu Antônio: quem começou essa escola aqui foi a Coopel, um ano.
Débora: ah, era Coopel?
Seu Antônio: é, quando começou, funcionou um ano de escola depois o Centro Paula Souza entrou.
Débora: mas sempre foi escola? Foi construído pra ser escola?
Seu Antônio: é, eu trabalhei nessa escola aqui cinco meses ajudando a fazer, quando estavam fazendo , de serviço.
Davi: pra construir ainda?
Seu Antônio: oh
Davi: mas então o senhor pegou isso daqui no começo mesmo
Seu Antônio: aqui era um taboa, que era uma lagoa, aqui só tinha duas casas, era uma lagoa aqui.
Davi: o resto era nada?
Seu Antônio: há vinte e poucos anos.
Débora: então é verdade que antes falavam que a escola era um lago?
Seu Antônio: era, era um lago, isso tudo era aterro, ali na caixa d’água do lado de lá da sala da Edna tem uma mina d’água, vocês podem ir por fora no canto da escola e olhar naquela caixa de espia, corre uma bica d’água direto assim, passa aqui dentro, podem ir por fora daquela caixa do canto ou senão na de dentro, também da pra ver que corre uma bica d’água direto, é drenado daqui até lá, que nós drenamos, e no fim trabalhamos pra nada, pagou pelas metades, perdi serviço, dinheiro que emprestei pra outro.
Davi: então é só, nossa turma queria agradecer ao senhor por participar dessa entrevista, por colaborar com nosso projeto e muito obrigado.
Débora: e esperamos que o senhor vá à nossa formatura, receber nossa homenagem.
Davi: seu Antônio, funcionário exemplo da ETE.

0 comentários:

Postar um comentário